Pensar diferente é pensar “fora-da-caixa”?

Disrupt em 5 Passos
março 5, 2018

O dia em que percebi que "pensar fora da caixa" não era suficiente.


De tanto ser provocado e já cansado da conversa de “pensar fora da caixa”, um dia me arrisquei e perguntei para a pessoa que tentava conduzir o exercício:

- O que é “Pensar Fora da Caixa” para você?

Naquele momento pude perceber um movimento tenso em seu pescoço, como se engolisse algo a seco. As pontas do seus dedos se juntaram num movimento nervoso de suas mãos. Ele abaixou a cabeça, respirou fundo e elevou seus olhos inclinando vagarosamente a cabeça para trás. Então pensei: Lá vem a explicação que desejo há tanto tempo...

Um instante de suspense e eis a resposta:

- Veja bem, “pensar fora da caixa” é pensar diferente!

Wow! E ainda disse isso com aquele ar de quem explica a fórmula de Bhaskara para adolescentes cheios de espinhas no rosto. Foi decepcionante!

Por um segundo passou pela minha cabeça a seguinte resposta:

- OK, cara pálida! Como vou pensar diferente, se todos os dias nesta empresa fazemos tudo sempre igual? Se nossa cultura é tão rígida que nos define a forma de ser, agir e pensar há anos e, além do mais, quem não se encaixa (ou pensa fora da caixa) é considerado “não alinhado a cultura” e é convidado a se retirar?

Achei melhor não falar nada e respondi com um falso e significativo balançar de cabeça seguido de um: Claro, faz sentido...!

Acabei sucumbindo mais uma vez. Perdi mais uma batalha contra a “hipocrisia corporativa” que teima em nos rodear.

Mas que tal jogar um pouco mais de luz sobre o que é “Pensar fora da Caixa” a fim de afastar as sombras dos modismos corporativos?

Vocês podem imaginar alguém pensando diferente sem na verdade tornar-se diferente?

O processo é um pouco mais profundo e exige desenvolver importantes competências, é mais complexo do que virar uma chave e dizer para sí mesmo: Ok, a partir de agora vou pensar diferente. Depois deste período volto a pensar dentro da caixa a fim de atender a cultura da organização e manter o meu emprego.

Tornar-se diferente é condição para pensar diferente.

E como podemos desenvolver competências de pessoas que pensam diferente?

Apesar de não acreditar em “receitas prontas”, seguem algumas dicas que podem ajudar nesse processo:

Questione sempre! Tente ser criança de novo – Você já percebeu como a criança é curiosa? Como as perguntas delas sempre nos deixam encantados. Pois é, porque não imitá-las?



Certa vez, numa palestra com o comediante (e homem de negócios) Murilo Gun, ele mencionou que apesar das vendas de guarda-chuvas serem altíssimas ninguém questionava o porquê do seu ponto mais protegido ser exatamente onde o seguramos, deixando outras partes do corpo exposta a água.

Bingo, Murilo! Só uma criança é capaz de pensar assim tão fora da caixa!

Destrave! Provoque formas diferentes de pensar – Vamos considerar a metodologia Brainstorm. Já imaginou se ao invés de iniciar o exercício solicitando soluções para algum problema, você sugerisse para buscarem sugestões que o piorassem? Isso é uma ótima prática para ajudar a destravar nossas ideias e deixar as pessoas mais aquecidas.

Viaje! Vá para lugares que nunca esteve – Se é tradição da família passar o final de ano naquela bucólica cidade do interior de Minas Gerais, tente ao menos conversar com pessoas diferentes. Dedique um tempo de qualidade para ouvir as experiências e entender como vivem por lá. Estar em locais diferentes e falar com pessoas fora de sua realidade é uma excelente maneira de estar em contato com o novo, de apreciar o diferente e aprender outras formas de relacionamento com o mundo.

Reflita! Não seja o dono da verdade – Há duas perguntas que devem sempre estar na sua cabeça: 1. De onde vem “minha verdade”? Procure identificar quais são as bases de sustentação de seu pensamento, ou seja, como essa opinião foi formada. 2. Quais são os fatos e dados que estruturam meu pensamento? Fugir das emoções é muito recomendado.

A verdade sempre estará no processo conjunto de buscar a solução. Nosso papel é contribuir positivamente para que o grupo, time ou comunidade chegue ao que deverá ser assumido por ela.

E por fim...

Erre! Deixe os outros errarem – O erro não deve ser punido e sim valorizado. Desobstrua sua mente de todos os conceitos que aprendeu sobre o erro. Valorize-o!

Um executivo que quebrou duas empresas vai ter menos possibilidades de quebrar a terceira do que aquele que ainda não quebrou nenhuma.

Isso é muito mais do que pensar diferente, não é?

Aproveitem a vida!
Texto escrito por Ricardo Fonseca